Leveza na Parentalidade

Quando refletimos sobre o papel que os primeiros anos de vida têm na vida de todos os seres humanos e no impacto que, nós pais, podemos assim ter nos primeiros anos de vida dos nossos filhos, é fácil sentirmo-nos assustados, duvidarmos das nossas capacidades, acharmos que fazemos diariamente coisas que estragam os nossos filhos ou acharmos que estamos a desperdiçar oportunidades de fazer coisas que mais tarde permitirão aos nossos filhos serem pessoas equilibradas, felizes, flexíveis, etc. São esses receios que nos fazem, muitas vezes, levar a parentalidade muito a sério.

O que é mais difícil na parentalidade?

Quando olhamos para o que achamos mais difícil na parentalidade, muitas vezes, focamo-nos no comportamento das crianças, isto é, levamos a parentalidade muito a sério não numa perspetiva de autoconhecimento e de encontrar respostas em nós, mas sim numa perspetiva do que podemos fazer para que o nosso filho mude alguma coisa. 

Exemplo: Como faço para que o meu filho leve a sério os estudos? Se o meu filho com 10 anos não levar a sério a escola, depois a vida dele nunca mais vai encarreirar; poderá ter muita dificuldade no mercado de trabalho, com o dinheiro, nas suas relações, etc. Então é preciso aprender a levar as coisas a sério. 

De acordo com alguns estudos e até com as nossas próprias experiências, percebemos que o que se torna um problema não é tanto a criança fazer ou não fazer determinada coisa, é sim nós nos focarmos nisso.

Outro problema com que muitos pais se deparam é o facto de viverem um conjunto de crenças e valores – que aprenderam quando eram pequenos – que os levam a esforçar-se para educar de uma forma diferente. E, por vezes, essa obsessão com a educação vem do fato de não conseguirem ser aquilo que estão a tentar que os filhos sejam. 

Exemplo: Digo ao meu filho: “Tu não podes mentir, tens de falar sempre a verdade” quando o meu filho já me viu várias vezes mentir em diferentes situações.

Quando olhamos numa perspetiva de parentalidade mais consciente, conseguimos ter uma maior clareza em relação ao facto de que o que está a ser difícil na parentalidade está do nosso lado. Isto é, difícil somos nós, a nossa forma de reagir perante certas situações, a nossa ansiedade, as nossas ideias pré-concebidas sobre o certo e errado, a nossa dificuldade em lidar com a vergonha, em lidar com a opinião dos outros, em gerir o nosso comportamento quando estamos zangados, etc.

Assim sendo, compreender que os desafios são mais do foro relacional do que educacional – isto é, o que torna a parentalidade pesada e afeta a relação negativamente é o nosso foco na (boa) educação, no comportamento, nos resultados – permite-nos explorar estratégias diferentes.

Lembretes para uma jornada de parentalidade mais leve, serena e divertida 

Comportamento gera comportamento.

Se nós formos um exemplo de uma pessoa que trata bem os outros, que honra os seus compromissos, que fala a verdade, que respeita as outras pessoas, etc. em princípio, isso influenciará o comportamento dos nossos filhos nesse sentido. 

Exemplo: Para o nosso filho desenvolver empatia e inteligência emocional, ele precisa de sentir a nossa empatia e observar a nossa inteligência emocional, também nos nossos piores momentos.

Não podemos ser aquilo que não somos.

Exemplo: Eu devia ser um pai que brinca com os meus filhos, como vejo outros pais que gostam tanto de brincar com as crianças. Só que para mim é muito difícil, porque eu não gosto de brincar com crianças e quando brinco, perco a paciência ou fico aborrecido/a.

Acreditar que temos de fazer uma coisa que não gostamos em vez de simplesmente assumir que não gostamos pode criar frustração e atrito. Pelo contrário, se refletirmos como podemos ter uma boa relação com o nosso filho, sabendo que não gostamos de certas coisas, conseguiremos encontrar outros pontos de encontro, tais como conversar, ler livros juntos, andar de bicicleta, etc. Os nossos filhos conectam-se melhor connosco quando somos autênticos.

Podemos confiar nos nossos filhos.

Podemos confiar nas suas capacidades inatas como também nas suas capacidades de fazer escolhas e de lidar com certas situações.

Podemos ousar ser amigo deles.

Ser amigo é algo sério, mas que é divertido e traz leveza. Quão bom seria imaginar um futuro em que quando perguntassem aos nossos filhos quem são os seus grandes amigos, nós podermos fazer parte dessa lista?

O nosso exemplo não é tudo, não é uma estrutura linear. 

As crianças não crescem só em interação conosco, crescem também em interação com os irmãos, com os avós, com os colegas da escola, com os professores, com os treinadores, com os colegas de equipa, com uma série de pessoas que podem causar um impacto muito grande na sua estrutura de crenças e comportamentos.

Exemplo: Eu quero ser um exemplo de honestidade porque eu quero que os meus filhos sejam honestos. Só que numa determinada situação, reparo que o meu filho não conseguiu ser honesto. Em vez de me martirizar e pensar que foi alguma coisa que eu fiz, em vez de culpabilizá-lo a ele ou a mim, posso relaxar e ficar curioso sobre o que está realmente a acontecer.

O contrário da leveza é a tensão. 

Quando estamos tensos, tipicamente pioramos a nossa capacidade de decisão, temos mais facilmente comportamentos que não batem certo com aquilo que realmente queremos, etc. Além dos problemas com que nos deparamos, tendemos a juntar criações nossas – mentais ou culturais – que causam ainda mais tensão. Se nós relaxarmos um pouco em relação a isso, conseguiremos ter mais recursos e energia.

Intencionar uma parentalidade mais leve e divertida.

Isso não significa que os desafios deixam de existir ou que devem ser ignorados, significa que é possível encontrarmos formas de lidar com eles com mais curiosidade e leveza. E após cada momento em que nos desviamos das nossas intenções, existe um momento totalmente novo no qual podemos recomeçar.

Parentalidade nunca é sobre perfeição, é sobre progresso. 

Há dias e momentos muito bons e dias e momentos que são para esquecer. Nesses momentos, em que parece que estamos a tentar andar no meio de uma tempestade, mais vale parar, recalcular a rota e nutrir as nossas necessidades para podermos ganhar a força necessária para passar pela tempestade.

Curiosidade, Conexão, Confiança, Compaixão.

De uma forma resumida, estas poderiam ser as palavras-chave para uma parentalidade com mais leveza.

Agora é a tua vez…

→ Identifica quais são as dificuldades que encontras na prática da tua parentalidade, garantindo que a resposta está centrada em ti. Quais são as tuas dificuldades?

→ Tendo em conta essas dificuldades, o que poderias fazer para trazer mais leveza à tua prática de parentalidade?

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