Mais Autoestima, Mais Autoconfiança

Na linguagem comum, misturamos muitas vezes autoestima e autoconfiança. Será por isso interessante perceber de que forma estes dois conceitos se diferenciam e nos ajudam a criar as bases para poder fazer acontecer, entrar em ação, viver a vida mágica.

Qual a diferença entre autoestima e autoconfiança?

Se retirarmos a palavra “auto”, ficamos com “estima” e “confiança” e isso ajuda-nos a perceber que são palavras diferentes. Enquanto a autoestima é algo mais interior, a autoconfiança está ligada a coisas exteriores (habilidades, comportamentos), sendo situacional. Também pode estar ligada ao aspeto físico.

Exemplo:

Sinto-me autoconfiante numa certa situação ou contexto por causa da experiência que fui adquirindo e dos feedbacks positivos que fui recebendo.

O que acontece é que podemos ter dificuldade em receber e aceitar feedback em relação ao que fazemos ou ao aspeto físico que temos, e quando isso acontece, provavelmente é porque precisamos desenvolver a nossa autoestima.

A autoestima tem a ver com aquilo que sabemos sobre nós e a forma como nos relacionamos com isso: as coisas boas e as coisas que gostávamos de desenvolver. Quando temos uma autoestima saudável, entendemos, logicamente e emocionalmente, que temos valor independentemente do nosso comportamento, do nosso aspeto físico, do que temos, fazemos, do que os outros acham sobre nós, etc. Reconhecemos que o nosso valor é intrínseco e inabalável.

Exemplo:

Se eu tenho uma autoestima saudável e recebo um feedback, eu ouço o feedback, reflito sobre ele e depois posso mudar ou não a questão ligada ao feedback. Nunca chego a questionar o meu valor próprio enquanto pessoa. Se eu tiver uma autoestima fragilizada, eu ouço o feedback, só que emocionalmente isso mexe comigo, começo a questionar-me e entro em sofrimento. Posso pensar algo como: “Não sei o suficiente para falar sobre isto. Deveria deixar de falar sobre isto e deixar quem sabe mais do que eu fazê-lo”.

A autoestima é mais do SER e a autoconfiança do TER/FAZER.

Usando linguagem de PNL, a autoestima está mais ao nível da identidade (Quem eu sou? Quem eu acho que sou?) e a autoconfiança está mais relacionada com as crenças sobre as nossas habilidades (sobre aquilo que acreditamos que sabemos/conseguimos ou não sabemos/não conseguimos fazer).

Qual a relação entre autoestima e autoconfiança?

No trabalho, no desporto, na escola, em vários contextos da nossa vida, recebemos muitos estímulos para aumentar a nossa autoconfiança/confiança. A autoconfiança, sendo situacional, é determinante para saber se fazemos ou não fazemos algo e para saber a forma como a fazemos. No entanto, por muito que trabalhemos a nossa autoconfiança para nos tornar confiantes a fazer algo, podemos não ter uma autoestima saudável.

Exemplo:

Um jogador de futebol pode tornar-se muito confiante em relação à sua capacidade de marcar golos e enquanto corre tudo bem, está tudo bem. Mas se passar por uma fase sem marcar golos em vários jogos seguidos, de repente pode sentir tudo a ruir não só em relação à crença que tem sobre a sua capacidade de marcar golos como também começa a exportar esses resultados para o nível da sua identidade, sobre quem ele é e o valor que tem. E começa assim a sentir-se muito mal não só com a situação, mas principalmente com quem ele realmente é. Talvez comece a achar que é uma fraude, que não sabe fazer nada direito, que antes teve sorte, que todos os outros acham que ele é um falhanço, entrando num grande sofrimento.

A nossa autoestima funciona como um sistema imunitário social e emocional. É a autoestima que nos ajuda a lidar com os desafios que a vida nos apresenta. Quanto mais saudável for a nossa autoestima, mais fácil será lidarmos com as questões que surgem.

Iremos certamente ficar tristes, frustrados, desiludidos, etc., pois a autoestima não é uma armadura que nos protege de emoções que doem. No entanto, o nível de sofrimento é atenuado quanto melhor for a nossa autoestima, principalmente porque não vamos questionar o nosso valor próprio.

Exemplo:

  • Independentemente se a outra pessoa gosta de mim ou não, eu tenho valor e mereço amor.
  • Se uma pessoa com dificuldades em falar em público tiver uma autoestima saudável, tendencialmente não coloca o seu valor enquanto pessoa em causa e isso permite-lhe ser resiliente, continuar a expor-se a essa situação e ligar-se ao processo de melhoria. Quando não há uma autoestima saudável, ela pode desenvolver uma autoconfiança na mesma, só que esta passa a funcionar como uma armadura no contexto de falar em público.

Em resumo…

Como a autoconfiança se desenvolve através da repetição de um determinado comportamento, podemos seguir dois caminhos diferentes na construção da autoconfiança:

  • Podemos partir de uma autoestima saudável e lidar com os resultados sem isso nos pôr em causa enquanto pessoa, com a noção de que os resultados dizem mais sobre o nosso comportamento e habilidade. Dessa forma, vamos construindo autoconfiança de forma gradual e sólida através do que observamos e dos resultados, tal como eles são.
  • Podemos seguir um caminho mais de “faz de conta”, em que não estamos tão focados no que observamos e nos resultados, porque nem sequer conseguimos lidar bem com isso, e optamos por estratégias para nos proteger de alguma forma da observação que vamos fazendo. Proteger-nos por detrás de uma armadura pode tornar a autoconfiança muito agressiva, pois vamos procurar defender-nos e atacar quando recebemos feedback negativo sobre o nosso comportamento e habilidade. Ficamos presos na ilusão de que o outro está a atacar a pessoa que somos e não apenas o comportamento, a prestação, etc. É quase como se disséssemos a nós mesmos: “Eu não confio em mim, confio é na armadura que construí.”

No próximo artigo iremos desvendar algumas estratégias e passos práticos para desenvolvermos uma autoestima saudável.