Parentalidade Consciente: Revelações da Investigação

Todos os dias, deparo-me com pais e educadores que aceitaram o desafio de adotar uma parentalidade consciente. Alguns vêm até mim em busca de apoio para enfrentar os desafios da parentalidade, enquanto outros transbordam de gratidão, alegria e satisfação pelas mudanças enormes que testemunham no seu dia-a-dia, mesmo perante os altos e baixos na relação com os seus filhos.

A parentalidade consciente é como surfar numa onda gigante da vida, onde estar presente e intencional é a chave para não levar um caldo. É como praticar yoga na sala de estar enquanto se brinca às escondidas com os pequenos. Envolve um cocktail de compreensão, empatia, comunicação consciente e uma pitada de humor, misturado com doses generosas de abertura e ausência de julgamento e conhecimento sobre o desenvolvimento da criança.

A parentalidade consciente não é uma parentalidade permissiva, só com abraços e beijinhos. É um processo de descobertas mútuas, onde os adultos aprendem tanto quanto os miúdos. Uma espécie de caça ao tesouro, onde cada emoção, necessidade e desafio se torna uma oportunidade para crescer e se conectar mais profundamente

E não penses que esta é apenas mais uma modinha passageira! A parentalidade consciente já tem registos desde o início do século passado e está a ser cada vez mais adotada o que também implica que tem sido alvo de crescente investigação.

Estudos em Portugal estabeleceram a relevância e aplicabilidade da parentalidade consciente e mindful e destacaram a receção positiva e as preferências específicas das mães e dos pais portugueses por intervenções projetadas para melhorar as práticas de parentalidade consciente. Estes resultados sugerem um reconhecimento crescente da importância da atenção plena (mindfulness) e uma prática de parentalidade consciente no contexto da parentalidade dentro da investigação portuguesa.[1]

Estamos no processo de poder contribuir para a investigação portuguesa, e até lá aqui vão 10 conclusões da investigação já feita em relação aos efeitos da prática de mindfulness na parentalidade e da parentalidade consciente:

  • A parentalidade consciente/mindful está associada a níveis mais baixos de stress parental e a estilos parentais mais positivos e conscientes, e menos estilos parentais autoritários e permissivos.[2]
  • Intervenções baseadas em mindfulness mostram promessa na melhoria do funcionamento de crianças e famílias. Intervenções de parentalidade consciente demonstraram reduzir o sofrimento psicológico nos pais e melhorar a sua saúde mental.[3]
  • Parentalidade Consciente melhora a relação pais e filhos, principalmente na transição para a adolescência.[4]
  • Programas baseados em mindfulness e parentalidade consciente podem reduzir significativamente o sofrimento psicológico nos pais de crianças com deficiências de desenvolvimento.[5]
  • Pais que praticam parentalidade consciente relataram melhorias com os seus próprios desafios, stress parental, comportamentos parentais, co-parentalidade e também nos sintomas de psicopatologia internalizada e externalizada de seus filhos.[6]
  • O mindfulness e a parentalidade consciente podem melhorar os relacionamentos familiares e ajudar as crianças a alcançarem resultados de desenvolvimento mais positivos através do aumento da capacidade de manter a atenção e gerir as emoções.[7]
  • A parentalidade consciente pode prevenir a transmissão intergeracional de transtornos mentais e melhorar as interações entre pais e filhos, reduzindo o stress e a reatividade dos pais, melhorando o funcionamento executivo dos pais, e aprimorando o funcionamento conjugal e a co-parentalidade.[8]
  • A parentalidade consciente melhora a comunicação mãe-adolescente ao reduzir reações negativas às informações, as percepções dos adolescentes sobre excesso de controlo e ao melhorar a qualidade afetiva do relacionamento entre pais e adolescentes.[9]
  • As intervenções de parentalidade consciente podem melhorar as interações entre pais e filhos ao reduzir o stress, a preocupação e os padrões disfuncionais, além de aprimorar a atenção ao auto-cuidado dos pais.[10]
  • A formação em parentalidade consciente ministrada às mães de crianças com autismo diminuiu significativamente a agressão, a falta de conformidade e a automutilação nas crianças, ao mesmo tempo que aumentou a sua satisfação com as competências parentais e as interações.[11]
  • A formação em parentalidade consciente reduz significativamente a psicopatologia tanto dos pais quanto das crianças, sendo que uma maior atenção plena na parentalidade é um preditor-chave da redução da psicopatologia infantil.[12]
  • Mães que participaram numa formação em grupo de parentalidade consciente relataram melhorias significativas na atenção plena, autocompaixão, parentalidade consciente, bem-estar, psicopatologia, confiança parental, responsividade e hostilidade, com alguns efeitos a persistirem até 1 ano.[13]

Chegamos assim à conclusão que os benefícios do Mindfulness na parentalidade e da prática de uma parentalidade consciente são multifacetados. Podemos observar relacionamentos pais-filhos melhores, uma comunicação mais assertiva e consciente, redução significativa do stress parental, estilos parentais mais flexíveis e eficazes e melhorias na saúde mental tanto dos pais como das crianças. Esses benefícios não são apenas imediatos, mas também podem ter efeitos duradouros para todos.

E por fim, partilho contigo um sonho. A Madre Teresa recebeu a pergunta: O que podemos fazer para promover a paz mundial? Ao que ela terá respondido: “Podemos ir para casa e amar a nossa família.” O meu sonho é que à medida que abraçamos a jornada da parentalidade consciente e nutrimos a paz dentro dos nossos lares, estamos a lançar as sementes de um mundo mais compassivo e justo. Assim, ao cultivarmos um ambiente familiar onde reine o amor, a empatia e a compaixão, estamos a moldar as mentes e os corações das gerações futuras, promovendo a construção de um mundo onde a bondade e a consciência são os alicerces de uma sociedade verdadeiramente humana. Algumas pessoas vão exigir evidência ciêntifica para sequer considerar abandonar práticas tradicionais e autoritárias de parentalidade e educação e estamos nesse caminho. No entanto, a melhor investigação que podemos realizar é aquela que ocorre no nosso quotidiano como pais e educadores conscientes. É na nossa prática diária que podemos verdadeiramente testemunhar e sentir os benefícios reais, não só para nós mesmos, mas também para os nossos filhos e para toda a família. Vendo também os efeitos muito além das paredes da nossa própria casa.

Que cada conversa, cada abraço e cada momento de conexão profunda com nossos filhos seja um passo em direção a esse mundo, onde a parentalidade consciente não é apenas uma prática individual dentro de quatro paredes, mas sim um catalisador para uma transformação global. Aliás, estou convencida que um dia, a investigação vai comprovar isso mesmo.


[1]Medeiros, C., Gouveia, M. J., Canavarro, M. C., & Moreira, H. (2016). The indirect effect of the mindful parenting of mothers and fathers on the child’s perceived well-being through the child’s attachment to parents. Mindfulness, 7, 916-927.

Fernandes, D., Canavarro, M., & Moreira, H. (2020). Mindful Parenting Interventions for the Postpartum Period: Acceptance and Preferences of Mothers with and Without Depressive Symptoms. Mindfulness, 12, 291 – 305.

Gouveia, M., Carona, C., Canavarro, M., & Moreira, H. (2016). Self-Compassion and Dispositional Mindfulness Are Associated with Parenting Styles and Parenting Stress: the Mediating Role of Mindful Parenting. Mindfulness, 7, 700-712.

[2] Gouveia, M., Carona, C., Canavarro, M., & Moreira, H. (2016). Self-Compassion and Dispositional Mindfulness Are Associated with Parenting Styles and Parenting Stress: the Mediating Role of Mindful Parenting. Mindfulness, 7, 700-712.

[3] Harnett, P., & Dawe, S. (2012). The contribution of mindfulness-based therapies for children and families and proposed conceptual integration.. Child and adolescent mental health, 17 4, 195-208.

[4] Duncan, L., Coatsworth, J., & Greenberg, M. (2009). A Model of Mindful Parenting: Implications for Parent–Child Relationships and Prevention Research. Clinical Child and Family Psychology Review, 12, 255 – 270.

[5] Harnett, P., & Dawe, S. (2012). The contribution of mindfulness-based therapies for children and families and proposed conceptual integration.. Child and adolescent mental health, 17 4, 195-208.

[6] Osborn, R., Dorstyn, D., Roberts, L., & Kneebone, I. (2020). Mindfulness Therapies for Improving Mental Health in Parents of Children with a Developmental Disability: a Systematic Review. Journal of Developmental and Physical Disabilities, 1-17.

[7] Duncan, L., Coatsworth, J., & Greenberg, M. (2009). A Model of Mindful Parenting: Implications for Parent–Child Relationships and Prevention Research. Clinical Child and Family Psychology Review, 12, 255 – 270.

[8] Bögels, S., Lehtonen, A., & Restifo, K. (2010). Mindful Parenting in Mental Health Care. Mindfulness, 1, 107 – 120.

[9] Lippold, M., Duncan, L., Coatsworth, J., Nix, R., & Greenberg, M. (2015). Understanding How Mindful Parenting May Be Linked to Mother–Adolescent Communication. Journal of Youth and Adolescence, 44, 1663-1673.

[10] Bögels, S., Lehtonen, A., & Restifo, K. (2010). Mindful Parenting in Mental Health Care. Mindfulness, 1, 107 – 120.

[11] Singh, N., Lancioni, G., Winton, A., Fisher, B., Wahler, R., McAleavey, K., Singh, J., & Sabaawi, M. (2006). Mindful Parenting Decreases Aggression, Noncompliance, and Self-Injury in Children With Autism. Journal of Emotional and Behavioral Disorders, 14, 169 – 177.

[12] Meppelink, R., Bruin, E., Wanders-Mulder, F., Vennik, C., & Bögels, S. (2016). Mindful Parenting Training in Child Psychiatric Settings: Heightened Parental Mindfulness Reduces Parents’ and Children’s Psychopathology. Mindfulness, 7, 680 – 689.

[13] Potharst, E., Aktar, E., Rexwinkel, M., Rigterink, M., & Bögels, S. (2017). Mindful with Your Baby: Feasibility, Acceptability, and Effects of a Mindful Parenting Group Training for Mothers and Their Babies in a Mental Health Context. Mindfulness, 8, 1236 – 1250.