Já não tenho vontade nenhuma de fazer sexo… disse ela.

“Já não tenho vontade nenhuma de fazer sexo. Basta ele tocar-me e já me estou a fechar. Interpreto cada toque como se ele só quer uma coisa…” desabafa a Sofia. A Sofia é mãe de 2 filhos pequenos de 3 e 1 ano. Uma mulher muito inteligente com olhos penetrantes. Trabalha muito. No trabalho e em casa. E está visivelmente cansada. Com os condicionantes todos parece normal que não sinta vontade de ter relações sexuais. Quando ela me relata o seu dia-a-dia nem parece haver grande tempo para fazer outra coisa sem ser dormir na cama.

A Sofia procurou-me inicialmente por causa das suas dúvidas como mãe. Mas, como acontece muitas vezes, acabamos por trabalhar as suas dúvidas enquanto mulher.

Inicialmente no nosso processo a Sofia acha quer é normal ter perdido a libido, uma ideia comum quando se trata da sexualidade da mulher. Mas quanto mais exploramos este tema, ficamos a perceber que só porque é comum, não quer dizer que seja normal ou biológico.

A Sofia percebe isso quando um novo colega começa a trabalhar no escritório. O Tiago. 8 anos mais novo que ela. Ela não o acha propriamente muito bonito. É divertido. E é sedutor. Ela sente-se vista por ele, como mulher. A mãe Sofia não está presente nas conversas com o Tiago. Quando ele olha para ela, ela sente borboletas no peito, na barriga… e em outros sítios também. E assim,ela tem a certeza. A libido ainda está lá.

A relação com o marido não é má, é prática, conveniente, previsível. A Sofia confessa que tem começado a ter fantasias com o Tiago, incluindo durante as poucas vezes quer é íntima com o seu marido. Algo que a faz sentir mais vontade e conseguir entregar-se mais ao ato… “Mas não posso dizer isso ao meu marido, claro!” Exclama ela. Ao mesmo tempo que ela está contente por entender que o desejo sexual existe, sente culpa pelas suas fantasias. Não é que já não gosta do marido, é que também está a desenvolver emoções em relação ao colega. Ao mesmo tempo.

As conversas com o Tiago prolongam-se fora do horário de trabalho, por mensagens. Não tem acontecido nada físico mas a intimidade das conversas já é grande. Ela fala com o Pedro sobre coisas que nunca tinha falado com o marido. Revela fantasias sexuais que nunca antes tinha partilhado com ninguém.

“Acho que vou ter de fazer uma escolha… talvez tenha de me divorciar.” Diz-me a Sofia um dia. “Será que existem apenas estas duas escolhas?” Questiono.

Na nossa conversa a Sofia tem vários insights, e o principal tem a ver com intimidade. Ela percebe que na relação com o marido há falta de intimidade. Ela já não sabe quem é o marido, e o marido não faz a mínima ideia quem ela é… talvez nunca se tenham conhecido verdadeiramente.

“E se falasses com o teu marido sobre o que andas a sentir, sobre o que tens partilhado comigo?” sugiro. “O QUÊ?!” exclama a Sofia e aqueles olhos grandes e penetrantes tornam-se enormes e quase saltam para fora.

A história da Sofia não é nada única. Muitas das suas partilhas ressoam também em mim. O que tenho descoberto, através da minha própria experiência e no meu trabalho e contacto com milhares de mulheres, principalmente mulheres que também são mães, é que somos seres muito sexuais, muito (algo que a ciência nova nesta área finalmente confirma). Mas muitas de nós não tem coragem para o admitir e quase nunca contamos a história toda. Nem a quem nos é mais próximo. As razões para isso são muitas, mas o mais interessante é que podemos começar, hoje, a criar algo diferente. Nunca é tarde para mostrarmos quem somos.

A chave, está na forma como somos íntimos. E não estou a falar do ato sexual em si. Estou a falar da forma como partilhamos quem somos, as nossas fantasias, os nossos desejos, as nossas sombras. Aquilo que queremos e não queremos. E da forma como oferecemos espaço, sem julgamentos e com curiosidade e compaixão, para o outro se sentir seguro para fazer o mesmo.

Conheço tanta gente que se apercebem que o que sentem falta é de verdadeira intimidade. E quem toma essa consciência também tem de assumir a responsabilidade de dar o primeiro passo para criar a intimidade que procura. Ser íntimo com um/a parceiro/a significa ser aberto e honesto com ele/ela. Significa estar presente na sua plenitude, com tudo que isso implica, e aceitar a plenitude do outro, exatamente como ele é. E, já agora, é a partir desse estado de intimidade que aquele sexo mesmo incrível nasce!

A Sofia, falou com o marido, sobre tudo. Ganhou coragem e decidiu assumir a responsabilidade para iniciar uma conversa sobre a (re)criação da relação com o marido.

Faço sempre o convite as minhas clientes de abrirem a porta a verdadeira intimidade. Se calhar metade abraçam mesmo o convite. A outra metade não faz nada ou fala ou pouco. Curiosamente, dessa metade, 9/10 reportam que a conversa foi algo muito positivo que aumentou a intimidade do casal. A maioria continuam juntos. Foi precisamente o que aconteceu no caso da Sofia. E ela contou-me uma serie de histórias picantes… Que não vou partilhar contigo agora. O que vou partilhar, são umas palavras do Rob Bell que tenho muito presentes na minha vida e sobre quais vale mesmo a pena refletir.

“It’s easy to take off your clothes and have sex. People do it all the time. But opening up your soul to someone, letting them into your spirit, thoughts, fears, future, hopes, dreams… that is being naked.”

Na onda do dia dos namorados e para celebrarmos o facto de eu e o Pedro estarmos juntos há 21 anos, o episódio desta semana do Podcast Inspiração para Uma Vida Mágica vai ser precisamente sobre relações, amor, intimidade e sexo.

 

Mia

2 thoughts on “Já não tenho vontade nenhuma de fazer sexo… disse ela.”
  1. É mesmo isto… Mia, obrigada por escreveres este texto. Deparo-me quase diariamente, com mulheres(mães) neste aperto. A intimidade pós-filhos é, a maior parte das vezes, desafiante. Mas se este desafio se transformar numa redescoberta do casal, com autenticidade e com a responsabilidade dos dois se descobrirem mutuamente, pode ser mágico. Beijinhos e obrigada.

  2. Oi boa tarde, como eu m senti um pedaço de “Sofia”, retrata um pedaço da minha vida!!! Eu pra além d ter uma vida mt semelhante a da Sofia, não tenho coragem de falar com o meu marido, não sinto nada por outra pessoa, não acho k já não gosto o suficiente dele pra estar com ele, por isso não tenho vontade de……… É pai das minhas filhas(não o pai k eu keria k fosse) mas…….. Tem as suas coisas boas mas as menos boas estão sp a prevalecer!!!!!! Dou os parabéns à Sofia por ter a coragem d ter a conversa com o marido e desejo lhe mts felicidades!!!! Obrigado Mia por partilhar estes exemplos connosco!!! Bjinhos e bom fim d de semana