“Ficas nervosa antes de falar em público?” – Perguntou.

Voz trémula, suores frios, pânico, black out… Falar em público é muitas vezes referido como um dos maiores desafios que qualquer pessoa enfrenta na sua vida profissional. O medo de falar em público mina invariavelmente o nosso desempenho no trabalho e também a nossa preparação, pois temos tendência para protelar tarefas que implicam um desfecho tão desconfortável.

No domingo passado eu e o Pedro finalizamos o Tour IVM 2019, o nosso tour solidário por onde passaram quase 3000 pessoas e onde toda a gente envolvida participou de forma gratuita e conseguimos fazer contribuições boas para 6 projetos locais de solidariedade.

Antes do evento começar estava sentada numa das cadeiras na parte de trás do auditório. Gosto de inspirar e sentir o ambiente da sala antes de entrar para o palco. Gosto de fazer uma pequena meditação. Gosto de observar as pessoas a entrarem no auditório, as energias, a linguagem corporal, as caras. Estava envolvida nesta minha rotina quando o Rui, que ia falar antes de nós, se sentou ao meu lado. Conversamos um pouco e ele perguntou se eu costumava ficar nervosa antes de uma palestra. Respondi que depende. Depende do contexto, do tema, da audiência, da minha preparação e presença plena.

O contexto e a audiência muitas vezes não consigo controlar. O tema consigo sempre influenciar bastante. A minha preparação e a minha presença plena estão totalmente sob o meu controlo. Daí estar precisamente aqui o meu foco. Por muito que possa querer um contexto diferente ou uma audiência diferente, não os posso mudar.

Ao mesmo tempo que pode ser um boost enorme para o ego olhar para uma audiência grande que veio para te ouvir falar, também desafia brutalmente a auto estima. Entram e ação os auto julgamentos e os pensamentos de insuficiência. Entram em ação os medos de não se lembrar de tudo que é para dizer ou de errar. O medo de não estar suficientemente bem preparado. O medo dos julgamentos dos outros. Para mim em particular também existe o facto de estar a falar numa língua que não é a minha língua materna. Uma língua que domino mas na qual nem digo tudo como ”deve” ser dito.

A minha resposta ao continuou: ”Mas hoje em dia não fico propriamente nervosa. Estou expectante. Estou contente. Estou focada. Estou aqui.”

E a última parte, para mim é a chave. Estou aqui. Adoro uma frase do poeta sufi Rumi, tenho a tatuada na anca direita: ”Aonde quer que estejas. Sê a alma desse lugar.” E são estas as palavras que levo comigo para qualquer evento que faço. Os pensamentos, os medos e os receios podem aparecer, mas iluminados com a luz das palavras do Rumi desvanecem.

São palavras que me permitem ser vulnerável, mas também confiante. Permitem-me ser gentil, mas também firme. Obrigam-me a estar plenamente presente. Convidam-me a ser EU a cada momento, com serenidade, com coragem e com sabedoria.

Foram também estas palavras que me ajudaram a não querer ser quem não sou em palco. Ajudaram-me a deixar ir o esforço de tentar ser a Mia que eu achava que as pessoas queriam ver, a Mia que achava que deveria ser e ser antes apenas a Mia, com corpo e alma, naquele preciso lugar e instante.

Por isso, se te poder dar apenas um único conselho em relação ao falar em público (ou falar em reuniões ou ter conversas importantes), seria levares as palavras do Rumi contigo: ”Aonde quer que estejas. Sê a alma desse lugar.”

Se te revês nos sintomas que mencionei no início deste texto quando precisas de falar em público, convido-te a ficares atenta/o ao próximo episódio do Podcast Inspiração para uma Vida Mágica.  onde eu e o Pedro vamos explorar este tema e falar também um pouco da nossa experiência pessoal 😉

Mia