por Academia de Parentalidade com Oriana Oliveira
Lançamos o desafio a algumas das nossas Facilitadoras: responderem a algumas perguntas, diretas e pessoais, sobre o impacto da aprendizagem e da Certificação em Parentalidade Consciente nas suas vidas. Temos vindo a publicar esses testemunhos no nosso Facebook e Instagram. Numa estreia, aqui no blog, fica a partilha da Oriana Oliveira que nos emocionou com a sua autencidade, sensibilidade e generosidade do seu testemunho real – uma mãe como tu e eu.
- Diz-me um ensinamento (ou uma ferramenta, aprendizagem) que a Parentalidade Consciente te trouxe e que fez mesmo a diferença.
Quando os meus filhos nasceram, senti-me perdida. Não eram “apenas” as dúvidas, as preocupações, a sobrecarga das tarefas, a rotina e o afastamento entre as expectativas e a realidade. Era mais do que isso… Lembrava-me, muitas vezes, do poema de Mário Sá-Carneiro: “Perdi-me dentro de mim, porque eu era labirinto. E, hoje, quando me sinto, é com saudades de mim.”
Era assim que eu me sentia. Com saudades de mim. Sentia que eu tinha deixado de ser quem era, para ser mãe. Ser mãe era tudo o que eu era e isso trazia-me sentimentos de arrependimento e de frustração, que acabavam por se converter em culpa.
A Parentalidade Consciente surgiu numa altura em que eu precisava, urgentemente, de me encontrar. Com a P.C. percebi que eu nunca me perdi, eu não me tornei menos, eu não me tornei mais. Eu transformei-me. As minhas necessidades tinham-se transformado e eu, assoberbada com a missão de criar dois filhos, não me apercebi, acabando por privilegiar as necessidades de todos sobre as minhas.
A partir do momento em que aceitei que também eu nasci quando os meus filhos nasceram, como mãe, percebi que também eu tenho de ser cuidada para ser feliz. Este foi, para mim, o grande ensinamento que a Parentalidade Consciente me trouxe.
- Quais as partes do dia que te sabem melhor, de que desfrutas e sentes o coração preenchido e em paz?
Desde que sou mãe, que me debato com a necessidade de ter tempo para mim. Quando decidi ficar em casa com os meus filhos, esta situação ficou ainda mais difícil. Agora tenho um novo desafio. O meu filho mais velho está na modalidade de Ensino Doméstico e eu sou a sua tutora. Os meus dias são passados com os meus filhos, sempre com os meus filhos, a fazer coisas com os meus filhos.
Sei que sou uma privilegiada mas, nem sempre me sinto assim. Sinto falta de estar sozinha. Então, as partes do dia que me sabem melhor, em que desfruto da minha paz e sossego, são quando o meu marido chega do trabalho e eu fujo para o quintal, ou quando toda a casa dorme e eu me estendo no sofá da sala a ver televisão.
E qual a altura do dia ou momentos em que não há Parentalidade Consciente que te valha?
Os momentos do dia mais difíceis são aqueles em que quero que as coisas aconteçam e não existe colaboração de ninguém. Normalmente, incidem no final do dia, quando é preciso tomar banho, lavar dentes, vestir pijamas, ir dormir, ou seja, dar o dia por acabado e abraçar a noite. A vontade de ficar acordados e continuar a desfrutar de um dia cheio, por parte dos meus filhos, é um bocadinho incompatível com a minha necessidade de estar sozinha e de ter um bocadinho para mim. Gerir necessidades, desejos e limites, de todas as partes e chegar a um consenso é tarefa árdua e nem sempre feita de forma muito consciente.
Mas, eis que surge um novo dia e uma nova oportunidade de fazer diferente.
- O que sentes mais saudades de fazer que fazias quando não eras mãe?
Tenho muitas saudades de ficar na cama até tarde, só porque me apetece. Tenho saudades de ir tomar um copo com os amigos e de, em seguida, ir dançar, sem me importar a que horas volto para casa. Tenho saudades de fazer amor, sem a preocupação de sermos, subitamente, interrompidos.
- O que (re)descobriste em ti, que não sabias que tinhas ou que andava muito esquecido, desde que és Mãe?
Descobri a minha força para ser autêntica, para não me conformar, para procurar soluções e para descobrir aquilo que quero. Sempre tive dificuldade em dizer não. Fui uma criança muito obediente, cumprindo o que todos me pediam. Isso trouxe-me algumas contrariedades em adulta, em que me sujeitei a situações por não conseguir dizer que não, mesmo querendo. Desde que fui mãe que senti, além de todas as responsabilidades inerentes, a responsabilidade de dizer não. Dizer não aos conformismos. Dizer não à pressão da sociedade de sermos, educarmos e sentirmos de determinada forma. Em suma, dizer não às decisões com base no medo e ter coragem para dizer sim às decisões com base no amor, principalmente, no amor-próprio.
- Diz-me uma ou duas coisas que os teus filhos têm/são que tu não tens ou não és? Isso faz-te aprender de alguma forma?
Os meus filhos não têm medo. Não têm medo de dizer que não. Não têm medo de expressar as emoções na hora, sem filtros e sem qualquer receio de julgamento. Não têm medo de dizer o que pensam. Não têm medo de arriscar. Não têm medo de falhar. Não têm medo de decidir o que querem, independentemente de mais ninguém o querer. Não têm medo de serem únicos.
Os meus filhos confiam. Confiam nas suas capacidades de aprenderem com o mundo, questionando e experienciando. Confiam que existem vários caminhos para chegarem onde querem, mesmo quando não sabem onde querem chegar. Confiam no desafio de procurar respostas e encontrar ainda mais perguntas. Confiam na vida, sem expectativas. Os meus filhos confiam no amor.
A confiança deles ensinou-me a confiar em mim, nos meus valores e naquilo que eu quero e não quero. A confiança deles tornou-me mais receptiva a arriscar, a procurar novos caminhos e respostas para as minhas questões. E, sobretudo, a não ter medo de questionar.
- Qual tem sido o maior desafio da maternidade?
Praticar o igual valor e o auto-cuidado tem sido o mais desafiante para mim. Compreendo que as minhas necessidades, desejos e limites têm o mesmo valor que os dos meus filhos e que, preciso de cuidar de mim para poder cuidar deles. Na prática, sinto muita dificuldade em fazer com que aconteça. Esta é a intenção em que mais batalho: “Ama-te a ti como amas os teus filhos”.