“Estou furioso!” – 7 passos para lidares com as crises emocionais do teu filho

– Estás a gritar muito alto e estou a ver muitas e grande lágrimas. O que estás a sentir neste momento?

– Estou FURIOSO!  
– Ufa, consigo mesmo perceber isso. O que preferes fazer com essa fúria toda agora? 
– Quero estar sozinho! 
– Está bem. Vou então continuar a fazer o jantar. Se quiseres podes vir ter comigo na cozinha quando te sentires preparado. Gostava muito de te ouvir, se quiseres contar.  Todos os pais uma vez ou outra encontram-se desafiados com agressividade dos filhos. Atrás da agressividade podemos encontrar muitos tipos de emoções; raiva, tristeza, frustração, indignidade, fúria etc. A agressividade e as suas vertentes são das emoções que quase todos os pais acham muito difícil lidar. São muitas as emoções que podem resultar em crises em emocionais.Para ajudares os teus filhos em situações de crise emocional podes experimentar a seguinte estrutura que procuro sempre seguir:

OBSERVA o que está a acontecer como se fosse a primeira vez. Olha para o teu filho como se nunca o tivesses visto antes, olha para as lágrimas… a quantidade, o tamanho. Ouve o tom de voz, as palavras que utiliza. Repara na sua energia e por aí fora.

DESCREVE de seguida o que estás a observar. É de extrema importância fazer essa descrição sem avaliar e sem julgar. A criança tem sempre todo o direito de se sentir como se está a sentir (nem sempre a expressão que ela utiliza é a melhor). Quando descreves o que estás a ver, estás a ajudar a criança a tomar consciência das suas emoções e estás a ajudar a desenvolver a capacidade de conseguir exprimir o que se está a sentir e as necessidades por trás da emoção.

PERGUNTA o que a criança está a sentir. Podes também adivinhar o que ela está a sentir, mas uma vez que não podes ter a certeza absoluta é importante incluir sempre uma pergunta. Se estou a ver lágrimas não posso partir do princípio que a criança está triste ou se ela se esconder que está com medo. No exemplo acima, uma alternativa poderia ser ”Parece-me que estás furioso, é isso?” Assim, a criança terá a oportunidade de afirmar ou não a sugestão.

RECONHECE a emoção da criança quando tens uma palavra. Utiliza sempre a mesma palavra que a criança utilizou! Outra palavra significa outra coisa e não é isso que a criança está a sentir.

PERGUNTA o que a criança prefere fazer em relação à emoção. Permite-a ser a dona do ”problema”, não precisas de a salvar do que ela está a sentir. Precisas de oferecer um espaço seguro, emocionalmente e fisicamente para ela sentir o que está a sentir. Assim ela aprenderá também a ser a dona das suas soluções, aumentando o seu auto-conhecimento.

RESPEITA a sugestão que a criança faz. Se ela não fizer nenhuma sugestão, podes sugerir. Mas mais uma vez, tem de haver sempre uma pergunta para que possa ser a criança a decidir e para ela se sentir alinhada consigo mesma.

CONVIDA sempre a criança a conexão. Mostrando que estás disponível para a ouvir e que tens mesmo interesse em ouvi-la e ficar a conhece-la melhor, deixando espaço para a criança decidir se quer o não partilhar os seus desafios. Pode ser difícil para nós pais quando a criança não quer falar connosco, mas a verdade é que quanto mais pressionarmos menos saberemos… e quanto mais convidarmos, mais saberemos.

Crianças que aprendem que têm o direito de sentir o que estão a sentir desenvolvem uma auto-estima saudável ao mesmo que desenvolvem uma linguagem para conseguirem exprimir a suas emoções. Têm a oportunidade de desenvolver a sua inteligência e competência emocional. Uma pessoa com boa inteligência e competência emocional tem um alto nível de auto-conhecimento, sabe demonstrar empatia, sabe assumir responsabilidade pelas suas necessidades e suas emoções e sabe comunica-las de uma forma respeitadora e responsável.  Além disso é apta para criar boas relações e consegue resolver problemas e conflitos de uma forma mais pacífica.

A principal forma que tens para ajudares o teu filho neste sentido é proporcionares bons exemplos, é de tu seres um bom exemplo. Ser um bom exemplo implica ouvir, reconhecer e respeitar as emoções dos outros, mas também significa ser autêntico, honesto e aberto em relação às tuas próprias emoções, assumindo responsabilidade pela forma que as exprimes e por cuidar delas. Já reflectiste sobre a forma que exprimes as emoções que te desafiam?

Como já referimos, todas as emoções são bem vindas, todas as emoções têm o seu lugar na nossa vida, a forma como as exprimimos é que nem sempre é muito saudável. Por exemplo, bater numa pessoa não é aceitável quando me sinto furiosa, mas posso talvez bater com os pés no chão e gritar.

Enquanto ajudas o teu filho a desenvolver a sua “literacia emocional” tens uma grande oportunidade de desenvolveres também a tua. Sabermos dar nome às nossas emoções e sabermos oferecer espaço ao que está em nós em cada momento é, sem dúvida, uma grande chave para a nossa felicidade.

Até breve!

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 Imagem: Dreamaker Photography
2 thoughts on ““Estou furioso!” – 7 passos para lidares com as crises emocionais do teu filho”
  1. Olá Mia!
    Sou pai de uma menina de 2 anos e meio e de outra com 4 meses.
    Leio o seu site com muito interesse e inclusivamente já assisti a uma palestra sua, juntamente com a minha mulher. Revejo-me inteiramente no que escreve e devo dizer que tenho feito o melhor para exercer uma “parentalidade consciente”. O trabalho de interiorização destes conceitos, dos seus conselhos e experiências, teve, para já, o efeito positivo de me tornar mais consciente de mim próprio, do que precisava de mudar e do que fazer para efectivar essa mudança.
    Há umas semanas para cá, a nossa mais velha, que sempre foi um “anjinho” (apesar de lhe reconhecermos desde sempre uma “personalidade vincada”) descarrilou por completo. Necessidade de afirmação e demarcação da sua independência, mudança de sala na creche, e, claro, a chegada da irmã, tudo isso nos parecem ser factores determinantes do recente comportamento dela, em casa e connosco. Sempre do contra, o “não” é o que mais diz e se, porventura, ouve um “não” da nossa parte descontrola-se por completo, emocional e fisicamente. Tem sido muito difícil levá-la a fazer as coisas que queremos e que, antes, até fazia com agrado: lavar os dentes, tomar banho, acordar, vestir, tomar o pequeno almoço, etc etc. As manhãs têm sido extenuantes. Muitas vezes afasta-me chamando pela mãe, e noutras ocasiões, cada vez mais frequentes, afasta a mãe e pede o pai. Recentemente alterna constantemente entre a mãe e o pai afastando aquele que, no momento, a está a aborrecer ou contrariar.
    A minha questão é: apesar de ela ser bastante “explicada” e muito verbal (sempre a incentivámos a tal) quando entra nesta espiral de desespero e angústia é extremamente difícil manter um discurso coerente e consciente com ela, pois parece que perde qualquer capacidade de se exprimir, de ouvir, de se sentir reconfortada e calma. Tentamos sempre, claro, levá-la a fazer as coisas a bem, com diálogo e persuasão, sem falar em castigos ou recompensas, mas parece que nada “entra” nos ouvidos dela.
    Apesar de tudo ela é, de facto, muito pequenina. Fará 3 anos em Janeiro. Até que ponto é que é possível exercer uma “parentalidade consciente” com uma criança tão pequena, que ainda, naturalmente, não tem tantos instrumentos para se exprimir e apreender o que lhe pedimos?