A perspetiva da Parentalidade Consciente para quando a criança morde, bate e empurra!

de Sara Gonçalves

Enquanto Educadora em Creche surgem no meu dia-a-dia algumas situações em que as crianças se batem, empurram, arranham, mordem… e se nós, enquanto adultos, não estivermos atentos, disponíveis e conscientes, podemos aumentar ainda mais este tipo de situações através da forma como a elas respondemos.

A primeira ideia a ter em linha de conta é olhar para esses comportamentos da perspetiva do desenvolvimento infantil e logo aí, vai-se retirar mais de metade do peso e do significado que muitas vezes atribuímos a estas questões. Por conseguinte, evitaremos procurar bodes expiatórios do “É sempre o mesmo”, “Só bate nos colegas”, “É impossível”, “É muito agressivo”, deixando de lado os rótulos, os preconceitos e a estigmatização.

Se pensarmos e olharmos para estes comportamentos com outros olhos, com olhos que vejam os processos físicos, cognitivos, linguísticos e emocionais que lhes estão subjacentes, mais facilmente encontraremos o caminho certo para lidar com estas situações através de uma perspetiva mais consciente, saudável e respeitosa.

Quando as crianças são pequenas as suas emoções são puras, inteiras e sem máscaras. Tudo o que sentem, sentem com uma grande intensidade e, como a parte racional do seu cérebro responsável pelo pensamento lógico e analítico (moral, empatia, tomada de decisões, flexibilidade, regulação das emoções…) está longe de estar desenvolvida, as suas reações serão sempre mais intempestivas, imaturas e primitivas.

Para além deste conhecimento que adquiri na minha formação de base enquanto Educadora de Infância, todo o conhecimento que adquiri à posteriori através da certificação em Parentalidade Consciente, concedeu-me novas ferramentas e novos olhares para a forma como me relacionava com este tipo de situações.

A arte de fazer perguntas foi uma dessas fantásticas ferramentas que passei a integrar na minha interação com as crianças.

“Que necessidades estarão por trás deste comportamento?”

“O que estará a querer comunicar?”

“O que estará a sentir que não está a conseguir verbalizar?”

“O que posso fazer, enquanto adulto, para responder a essas necessidades?”

“Como posso, enquanto adulto, ajudá-la a encontrar formas mais positivas de se expressar?”

“O que é mais importante para mim na relação que quero estabelecer com a criança?”

Ao colocar-(me) estas perguntas tiro automaticamente o foco do comportamento em si, saio do registo das respostas automáticas e preconcebidas pela minha cabeça e tenho a oportunidade de efetivamente ajudar a que o comportamento se modifique.

Para além de tudo, é sempre importante lembrar que somos o modelo que as crianças seguem pelo que, se queremos autorregulação da parte delas temos que nos saber autorregular, se queremos que saibam lidar com as suas emoções, temos de saber reconhecer e lidar com as nossas, se queremos que sejam tranquilas na forma de interagirem com o outro, temos de interagir com elas de forma também tranquila.