Porque adormeço os meus filhos, sempre que eles pedem

“Devo ter passado para aí 7 biliões de horas da minha vida deitada, na penumbra, com os meus filhos , para que adormecessem. Parte dessas horas foram duras, miseráveis, eu cansada, desesperada para ir fazer outras coisas ou simplesmente desejosa de tempo para mim, enquanto eles pareciam ter tudo menos sono. Outras vezes, foram horas doces e amorosas, em que houve  tempo para ler histórias, mimos e cócegas, em que por vezes, já só a luz de presença ligada, o mais velho se lembrava de partilhar algo do seu dia, ou o mais pequenino se aninhava em mim e me dizia: “amo muito a ti”.

Eu ouvi, ainda grávida do meu primeiro filho –   e continuo a ouvir  – todos os argumentos que defendem que adormeceres as crianças na tua cama, ou deitares-te com eles até adormecerem é um mau hábito e como deves quebrá-lo ainda quando são bebés.

O que te pergunto é: e se afinal não passar de teoria infundada? O que acontece se tu embalares e adormeceres ao colo o teu bebé todas as noites ou se dormirem juntos? E se depois, mais crescido, te deitares com ele e coçares as costas até que adormeça? E se, mesmo já em idade escolar,  te pedir para ficares no quarto, ao seu lado, acalmando-o com a tua presença até que adormeça?

Eu sei o que me vais perguntar: e se nunca aprender a auto-regular-se? Como vão aprender a adormecer sem ti? Não estarás a criar uma criança dependente que nunca vai aprender como sobreviver no mundo sem ti?

As respostas a estas perguntas é um inequívoco NÃO!

Numerosos estudos mostram que quanto mais vínculo tu crias com os teus filhos, mais seguros e independentes eles na verdade se tornam , à medida que  vão crescendo.

O que faz todo o sentido se pensares um pouco sobre isso: dar segurança às crianças torna-os confiantes e mais capazes de lidar  com os desafios do mundo.

Não estou a dizer, claro, que é obrigatório adormeceres com os teus filhos ( há muitas facetas de educar uma criança segura e nem todas as crianças tem as mesmas necessidades ou rotinas).  Mas o que te quero dizer é que não há qualquer razão válida ou científica para não o fazeres se isso funciona na tua família. E quero dizer-te que se o fazes, se os teus filhos te pedem e tu queres fazê-lo, não há qualquer razão para sentires culpa ou pensares que eles não se adaptam quando tu não estás ou que nunca vão  saber adormecer sozinhos.

Eu deito-me junto das minhas crianças porque eles pedem, porque sempre o fiz, porque mesmo quando o faço um pouco maldisposta sei, na verdade, que são 15 ou 20 minutos do meu dia mas que significam muito para os meus filhos. Eu adormeço as minhas crianças porque entre a escola, o trabalho, as refeições e TPC, atividades e compromissos é raro termos momentos de silêncio e proximidade física tão doces e profundos como os que acontecem ao deitar. Eu deito-me com eles porque até eu prefiro dormir acompanhada e me custa muito mais adormecer quando o meu marido não está ( e tenho 38 anos!). Acredito que, aos 4 e 9 anos, as minhas crianças tem o direito de ter essa segurança extra que até alguns adultos precisam ( será que é porque não a tiveram suficiente quando eram mais pequenos?)

Vou adormecê-los cada vez com mais boa vontade, sempre que me pedem, porque houve muitas noites , neste último ano, em que o meu filho mais velho deixou de precisar da minha presença e literalmente me pôs fora do quarto porque queria ler o seu livro e adormecer sozinho.

Adormeço-os sabendo, cada vez com mais convicção, que fortaleço a nossa intimidade, porque ainda por cima sendo rapazes, quero que saibam que sempre que se sentirem frágeis, nervosos, tristes podem e devem dizê-lo, pedir ajuda e carinho.

Adormeço-os porque sei que os dias em que precisam assim de mim e se voltam para mim, estão numerados.

Sim, às vezes, no final dos meus logos dias de mãe, deitar-me ali, na penumbra é a última coisa que me apetece fazer. Às vezes, estou agitada, com fome, impaciente, às vezes dou por mim a cerrar os dentes só para não deixar sair um grito de frustração.

Mas também sei que aqueles minutos em que os meus miúdos relaxam na segurança dos meus braços e da minha presença são os mais valiosos – para eles e para mim. E nada pode estar mais certo do que isso.”

por Academia de Parentalidade Consciente

uma tradução livre a partir de Wendy Wisner, para o site Scary mummy