A Humildade e a Gratidão de ser Mãe

Refletir sobre a minha Parentalidade, com um olhar consciente, é voltar á minha infância, é recuperar a criança que fui, é olhar as feridas que carrego dentro de mim e que moldam a mãe que sou. É despir a pessoa quem sou… As máscaras, os medos, o questionar as crenças, o ver-me ao espelho, com os olhos da Alma. É voltar a ser pequenina e querer crescer de novo. É uma segunda oportunidade de ser feliz, no fundo. É um reconstruir-me a partir da criança que deixei lá atrás, sozinha, com medo. É perceber que ela e eu somos uma.

Eu tenho dois filhos. E não podiam ser mais diferentes. Quase opostos. Sou uma sortuda!

O Leo é o meu primeiro filho. Aquele com quem cometi todos os erros e mais alguns de “mãe de primeira viagem”. Tudo o que disse que não ia fazer, fiz.

As questões da não-aceitação, da resistência em relação ao meu filho começaram cedo… e depois passaram para a não-aceitação do seu comportamento, da sua energia “hiperativa”, da sua ânsia, do seu desprendimento, da sua alegria, do seu questionar constante das regras, da sua “desobediência,” do seu choro por tudo e por nada, da sua escassa tolerância á frustração, das suas lágrimas, da sua constante insatisfação, dos seus gritos, das suas birras constantes, da sua sensibilidade extrema, da sua dependência afetiva, … de tudo o que trago cá dentro, de tudo o que sou, e não aceito…

O meu filho mostra-me tudo o que eu quero esconder… Amo o meu filho apaixonadamente e sei que este é o meu processo: o da ACEITAÇÃO. Somos iguais. Sei que para aceitar o meu filho tenho que me aceitar a mim. A Parentalidade Consciente ensina-me isso. Mas não sei como fazê-lo totalmente… ainda. E sei que só com esta aceitação o liberto a ele deste fardo que é carregar estas minhas dores. E só liberto, poderá ele cumprir o seu destino. Livre.

A minha menina Luna, é a luz, a segurança, a presença… Tudo me espanta nela, tão crescida, tão madura, olho para ela e não vejo nada de mim (“Não tem nada teu”, dizem-me… ) e é tudo o que eu queria ser quando crescesse… Ensina-me todos os dias a simplicidade da presença, a força da presença. Exige e reclama a minha presença a toda a hora, mas de uma forma muito natural e simples. Sem equívocos. As emoções nela estão todas no lugar certo. É limpa emocionalmente. E isso não tem nada a ver comigo. É dela. É como se ela tivesse nascido assim… aparte da minha consciência, já “crescida”, bem resolvida.

O facto de eu dizer que os meus dois filhos são os dois lados de mim e, que são eles que me ensinam todos os dias as maiores lições da Vida, são os meus Gurus, os meus Mestres, é talvez a 1ª grande lição que eu tiro da Parentalidade Consciente.

É que percebo todos os dias que eles são muito melhores pessoas do que eu, ensinam-me todos os dias que eu posso saber de rotinas, de horários, de refeições, de roupas e limpezas, mas eles têm a sabedoria primordial da Alegria, da Coragem, da Presença, da Vida, no fundo… que eu esqueci há “vidas” atrás.

A força espiritual é deles e é uma lição que me ensinam todos os dias. Eu só tenho mais anos de vida, que de nada me servem para ser feliz. Eles são a força espiritual, estão muito mais próximos da fonte do que eu… Eles vivem no Agora e ensinam-me a Presença, momento a momento. Eles ensinam-me a brincar no banho, fingindo que a banheira é um mar gigante onde cabem todos os animais da nossa imaginação e a casa de banho é um céu aberto que recebe as ondas dos pés deles a baterem vigorosamente na água doce do amor que os une, entre risos e abraços.

Eles ensinam-me tudo aquilo que tem valor e eu, adulta, séria, cansada, teimo em não querer saber. Vivo ainda muito em piloto automático e sou mãe ventania sempre a correr de um lado para o outro, pois a arrumação e a limpeza da casa, e o cumprimento das horas de tudo (banhos e refeições e horas de dormir) me é muito importante… (necessidade de controlo?… ) e nessa correria dos dias eles têm crescido, á sombra da minha inflexibilidade… E estou a perder momentos de verdadeira conexão porque não aceito o convite deles para me sentar no chão e brincarmos juntos. Eles trazem á luz a minha inconsciência e ensinam-me a abraçar o meu Eu autêntico.

O meu filho tem dias que acorda de manhã e a 1ª coisa que me diz é: “Mamã, queres ir brincar comigo?…” e corta-me o coração dizer-lhe que “de manhã não tenho tempo para brincar. Temos que nos despachar para irmos para a escola, digo. Logo, quando chegarmos a casa, brincamos juntos, prometo…”

Quando na verdade eu nunca tenho tempo ou vontade até para brincar com os meus filhos. Porque estou sempre tão cansada… sempre a olhar para o relógio á espera das horas para cumprir as tarefas que me imponho… Sou uma chata! Que mãe é esta? Onde aprendi a ser assim? Não sei ser criança junto com os meus filhos. E tudo o que eu queria era entrar no seu mundo, resgatar a minha inocência, esquecida numa infância que preciso recuperar… Invejo a simplicidade com que eles vivem a vida e a sentem verdadeiramente.

A presença… aprender a estar presente para os meus filhos, momento a momento… largar o controlo, viver a vida, ser feliz…

Quem sou eu sem filhos? Quem é a Cátia? Não sei responder a esta pergunta, pois que me sinto perdida dentro da minha Parentalidade e não sei ser, sem ser a mãe dos meus filhos. Tudo em mim se cumpre á volta deles. Perdi a minha Identidade.

Sempre preocupada com eles, sempre a correr, sempre a antecipar tudo, para que tudo corra bem, sempre cansada, em alerta, em stress. Não sei relaxar. Ser descontraída. Não tenho tempo para mim. Descanso no meu trabalho. O meu espaço sem filhos. Adoro as segundas-feiras, pois os fins-de-semana em casa às vezes são tão extenuantes…

Cuidar de mim. Ter tempo para mim. Gostar de mim. Sentir-me bem comigo. Tudo isto me parece utopia. Sei que é importante me recolocar em primeiro lugar. Não sei ainda como o fazer. E a minha saúde física e emocional dá sinais, que teimo em não querer ver.

Se estou aqui, neste caminho de autodescoberta e desenvolvimento pessoal, aos meus filhos o devo. Porque tive a bênção de ter como primeiro filho um ser desafiante que me tem mostrado que eu não sabia nada, mas que tenho todas as respostas dentro de mim.

Por isso lhe estou grata, por quebrar o meu Ego diariamente, por me pôr de joelhos a questionar tudo, a questionar quem sou eu!

Sei hoje que sou uma mãe melhor do que era há um ano atrás. Mais consciente, sem dúvida. Sei também que ainda tenho um longo caminho a percorrer, o caminho de uma vida.

Sou conscientemente imperfeita e sei que estou longe de ser a mãe que tenho intenção de ser para os meus filhos. A mãe que no meu coração sei que posso e quero ser. Mas estou a caminho dessa congruência.

A Parentalidade Consciente não mudou os meus filhos. Mudou-me a mim. Não a pessoa que eu era, mas, nos segredos que os meus filhos encerram para mim, revela-me todos os dias sobre quem sou de verdade.

Cátia Bitiah