Será a homossexualidade uma escolha?

Percebo logo pelo olhar e pela postura corporal quando chega a mim um adolescente em sofrimento.

E muitos deles, com o sofrimento bem estampado no rosto, sentem trazer a culpa e a vergonha às costas.

Culpa de não serem o que os seus pais desejavam que fossem. Culpa por sentir que são diferentes de todos os outros. Culpa por sentirem gostar da pessoa “errada”.

Culpa pelo que são. Culpa por serem diferentes, e por serem vistos e olhados como anormais, doentes ou desviados, principalmente pelos seus pais ou familiares.

Muitos destes adolescentes vêm ainda sem saber ao certo se gostam de rapazes ou de raparigas, confusos, frágeis, revoltados e zangados.

Há uns anos, um deles, rapaz, dizia-me: “se eu pudesse escolher, escolhia gostar de raparigas, não de rapazes. Tudo era mais fácil de assim fosse”.

De facto gostar do sexo oposto numa sociedade que ainda vê a homossexualidade como uma doença ou com preconceito, seria muito mais fácil, e o inverso, uma tarefa árdua.

Mais árdua fica, quando ainda se sente todo este processo com culpa, por se sentir que não se é o filho desejado.

Este sofrimento é avassalador. Se a adolescência em si, já é um momento de grandes transformações, de grandes reflexões, onde se integra o passado, se questiona o presente e se perspetiva o futuro, imaginem então, acrescentar a este momento intenso de descoberta, o peso de sentir que não se corresponde às expectativas dos pais, família, professores e de toda uma sociedade… Sim, porque se a homossexualidade fosse uma questão de escolha, talvez tudo fosse mais fácil, ou não.

A intenção que coloco nestas palavras que escrevo, é a de alertar, tocar, e de sensibilizar os pais para o sofrimento que os seus filhos e alunos podem trazer dentro de si, por sentirem que gostam de uma pessoa do mesmo sexo.

O que fazer então?

Ouvir, escutar, sem o “certo” e “errado”, sem o “normal” e “anormal”… Tudo isto são condicionamentos sociais e muitos deles só enviesam o olhar e o cuidado que estes assuntos precisam.

Aceitar, compreender, acarinhar, ajudar, e tomar consciência que a orientação sexual é uma das dimensões mais importantes na vida de todos nós, e que ganha forma e intensidade com a adolescência, torna-se urgente e importantíssimo.

Crescer com a culpa de se gostar de uma pessoa do mesmo sexo, é um sofrimento imenso, que poderá dar origem a um adolescente que cresce zangado e em incongruência consigo, com os outros e com o mundo.

Zangado, e em dor porque afinal não compreende porque é diferente dos outros, porque não compreende porque se sente atraído por pessoas do mesmo sexo, com um mundo que lhe faz ver que talvez ele esteja errado, quando na verdade, está tudo bem, com ele, com a sua sexualidade, e com a sua vida. Ou zangado, ou profundamente dececionados e tristes  porque ainda assim, há adolescentes que sentem que com eles está tudo bem, o mundo é que não os compreende e aceita como são.

Diana

Psicóloga da Equipa da Academia de Parentalidade Consciente

Já se encontram a decorrer as inscrições para a Certificação de Facilitadores de Parentalidade Consciente em 2017.

 

2 thoughts on “Será a homossexualidade uma escolha?”
  1. As mudanças de mentalidade passa pela aceitação de valorizar a escolha de cada Ser. Casos há, em que a opção não passa por uma escolha definida e sim por sintonias que vão muito além de uma orientação. A sociedade terá que parar de questionar constantemente a orientação individual de cada um. As sintonias do amor são e serão sempre abstratas. Desengane-se a pessoa que julgue ter uma opção completamente definida. As sintonias pontuais ocorrem nas diferentes vivências de cada ser ainda que não passem ao ato efetivo. O amor é padronizado por diferentes niveis desde o platonico, passando pelo companheirismo e circunstancialmente efetivando-se no desejo. O desejo também engloba niveis abstratos. Não sou pai, mas tenho sobrinhos, e na minha opinião, o respeito pelas fases de cada adolescente passa pela leveza na orientação de os elucidar para as suas escolhas serem “certas” se forem de encontro às suas próprias sintonias enquadradas no seus patamares adequados com a suas fases emotivas e maturidade para as percecionarem.