Como entender o comportamento? Os 6 pressupostos fundamentais!
Quando praticamos Parentalidade Consciente não olhamos para o comportamento das crianças como algo a corrigir, olhamos para o comportamento como algo a entender para depois poder fazer as mudanças que achamos necessárias (sejam elas relacionadas connosco ou com a criança ou ambos)! Muitas vezes, principalmente quando não estamos habituados a esse processo de reflexão, pode ser desafiante entender. A boa notícia é que, como sempre, quanto mais praticarmos, mais fácil fica!
Quero-te apresentar alguns pressupostos que, pessoalmente, acho útil ter presentes no processo de entendimento do comportamento e na procura de soluções para lidar com o mesmo.
1. Todo o comportamento existe para satisfazer necessidades.
Eu acredito que tudo o que faço, faço porque quero satisfazer algum tipo de necessidade. Tudo que tu fazes, fazes porque queres satisfazer algum tipo de necessidade. Tudo que o teu filho faz, faz para satisfazer algum tipo de necessidade!
É fácil observarmos necessidades como fome, sede ou sono. A satisfação ou insatisfação destas necessidades, como todos certamente já sabemos, podem originar conflitos. Existem também outras necessidades mais profundas, e de observação mais subtil, que vale a pena explorar.
Quando escrevo este artigo faço-o porque tenho uma necessidade de contribuir para melhores relações entre pais e filhos e também tenho uma necessidade de ser ouvida e reconhecida.
Quando lês este artigo se calhar é porque tens uma necessidade de saber lidar melhor com os conflitos que tens com o teu filho.
Quando o teu filho faz uma grande birra porque não quer vestir a roupa que escolheste se calhar é porque ele tem uma necessidade de ter mais influência sobre a vida dele.
Portanto, uma pergunta chave é; qual a necessidade que a criança está a procurar preencher através do seu comportamento?
2. O mapa não é o território
Quando tens dificuldade em pensar em possíveis intenções e necessidades por preencher a melhor coisa que podes fazer é assumires a posição do teu filho. Quando utilizas o pressuposto de que o mapa não é o território entendes também que não há uma verdade ou realidade absoluta. A nossa realidade é completamente subjetiva e para encontrarmos soluções para eventuais conflitos é essencial perceber que a realidade do teu filho é diferente da tua.
A pergunta a fazer é: Qual o mapa do meu filho?
3. A intenção de um comportamento é sempre positiva.
Este ponto pode ser desafiante aceitar. Mas convido-te a fazer o exercício de aplicar também este princípio. É bom lembrar que ”o mapa não é o território” e a intenção é positiva do ponto de vista do mapa da criança.
Quando uma criança bate noutra, na superfície, não parece nada positivo. Mas se utilizarmos os pressupostos apresentados aqui vamos olhar além do que está visível. Se calhar a criança que bate tem uma necessidade de maior contacto. Se calhar tem uma necessidade de ser vista e reconhecida. Se calhar tem uma necessidade de sentir mais calma e harmonia. Não estou a dizer que a estratégia escolhida é a estratégia certa (além disso a estratégia de uma criança é praticamente sempre escolhida inconscientemente), mas olhando para as coisas desta forma temos a oportunidade de encontrar estratégias alternativas, e mais positivas, para satisfazer a mesma necessidade.
Ou seja quando procuras a intenção do comportamento, nunca pode ser ”ele quer chatear” ou ”ele quer magoar”… se notares que chegas a essas respostas, tens de pensar mais um pouco, ”Mas porque é que ele está com vontade de chatear? Qual a intenção positiva deste comportamento?”
4. Existem sempre várias formas/estratégias para satisfazer cada necessidade.
Quando apenas digo à criança que está a bater que ela não pode bater, ou se a puser de castigo porque bateu, o que ela vai perceber é que a necessidade dela não pode ser preenchida, que o que ela está a sentir não tem valor. O que muitas vezes leva a mais conflito, porque a criança continua a ter a mesma necessidade.
Imagina que a criança na situação em cima em vez das necessidades propostas tinha fome, ou seja a necessidade de se nutrir, e a outra criança tinha um pão. Ou seja, a primeira criança bate na segunda porque quer o pão. Provavelmente o teu único foco não seria repreender a criança porque bateu, também ias procurar satisfazer a necessidade de nutrição.
Consequentemente, terás de fazer a pergunta: Que formas/estratégias existem para satisfazer a necessidade em questão?
5. Com flexibilidade posso satisfazer as minhas necessidades e as necessidades do meu filho.
Sim, é mesmo possível, desde que não tenhas a crença que tem de ser sempre à tua maneira e quando tu queres.
Imagina que estão a chegar a casa após um dia longo de trabalho. Antes de começar com a logística do jantar estás com vontade de ficar sentado na sala a conversar um pouco com o teu parceiro. As crianças estão cheias de energia e começam com brincadeiras elaboradas e em alto som na sala. Uma situação que facilmente leva a conflito…
Se olhares primeiro para as necessidades presentes, tanto as tuas como as das crianças consegues ver que tu tens necessidade de calma e eles estão com necessidades de contacto e diversão. Quando sabes isso, pergunta; que tipo de soluções podem existir para satisfazer as necessidades de todas as pessoas envolvidas?
Se calhar as crianças podem ir brincar noutro sítio da casa ou lá fora.
Se calhar tu e o teu parceiro podem ter a conversa noutro sítio.
Se calhar tu e o teu parceiro podem dar um pequeno passeio.
Se calhar podem todos dar um passeio.
Se calhar as crianças estão dispostas a fazer uma brincadeira mais calma.
etc.
Se utilizares uma solução que não funciona, então provavelmente quer dizer que ainda existem necessidades por satisfazer. Em minha casa por exemplo muitas vezes se eu e o meu parceiro vamos para outro sítio, as crianças vêm atrás…. o que provavelmente quer dizer que existe uma necessidade de ligação e contacto connosco. Então temos de pensar noutra solução. Será que dá para termos a nossa conversa ao lado de uma brincadeira um pouco mais calma? Será que podemos todos ver televisão durante um pouco? Será que podemos entrar na brincadeira durante 15 minutos para depois poder ter um pouco de calma? Será que podemos falar durante 15 minutos para depois participar na brincadeira?
6. Resistência é sinal de falta de conexão.
Se a criança continua a resistir à tua mensagem ou à tua pessoa, essa resistência impede a solução da situação. Quando o teu filho continua a resistir é sinal que ainda não conseguiste gerar o nível de confiança suficiente para que a tua comunicação seja apreciada sem ruído. Quando utilizas este pressuposto utilizas a pergunta ”O que posso mudar na minha comunicação para gerar mais conexão?”
São estes os 6 pressupostos que te convido a explorar. As únicas coisas necessárias para realmente explorar os pressupostos são curiosidade, paciência e presença. E vai correr tudo bem, com certeza!
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