Preparar a mochila para o regresso
As férias chegam ao fim…
Foram tão aguardadas e com tanta expectativa! Dias para descansar, relaxar, passear, divertir, ler, parar, enfim! Tudo aquilo que no dia-a-dia de trabalho sentimos não ter tempo para fazer.
Mesmo que tenhamos tido tempo para tudo isso, chegamos habitualmente ao fim das férias com um cansaço acumulado e a olhar para os dias de trabalho que se aproximam pensando que a paragem que fizemos não foi suficiente para recuperar energias.
As aulas aproximam-se e o stress de um novo ano escolar também! Compramos os livros, o material escolar, verificamos horários, turmas, tempos livres e atividades. E por mais que não lhes apeteça iniciar as aulas, impingimos o “discurso motivador” aos nossos filhos – reencontro dos colegas, novos livros, matérias interessantes, novos professores, etc… Preparamos, dentro do possível, toda a bagagem física e emocional para o seu regresso à escola!
E nós, pais, com que mochila regressamos ao trabalho?
A maioria de nós irá voltar ao mesmo ambiente, à mesma rotina, ao mesmo stress. Não é preciso muito para entender que o período de férias ajuda muito, mas que não é suficiente para acrescentar qualidade de vida à nossa rotina de trabalho, se nos mantivermos a fazer o mesmo que sempre fizemos (à semelhança de uma boa noite de sono não ser suficiente para compensar noites consecutivas mal dormidas).
Escuto (vezes demais) queixas de pais sobre a maneira como os filhos falam da escola… É verdade que existe TANTO ainda a fazer no nosso sistema de ensino para que se torne mais motivador, inspirador e cativante para as crianças e jovens! Também é verdade que a nossa intervenção enquanto pais (e professores) é fundamental para que isso aconteça. Mas a minha reflexão de hoje é para o testemunho que damos em família. Porque também escuto (vezes demais) queixas de adultos sobre o seu trabalho.
O meu filho queixa-se da escola… e quantas vezes me queixo eu do trabalho?
O meu filho chama nomes à professora… e de que modo é que ele me ouve falar da minha chefe ou dos meus colegas?
O meu filho envolve-se em brigas na escola… e de que modo ele me vê resolver os conflitos no meu local de trabalho?
O meu filho fica nervosíssimo para os testes… e que tranquilidade eu demonstro perante a minha avaliação?
O meu filho vive focado apenas nos livros e não convive… e de que modo ele me vê focado em demasia no trabalho?
O meu filho não gosta de estudar… e de que forma ele me vê entusiasmado com os meus projetos?
Nem todos temos a sorte de trabalhar no que mais gostamos, de ter um ambiente de trabalho agradável, de ter projetos desafiantes e motivadores. O facto de voltar ao trabalho (mesmo tendo a noção de que é muito bom ter emprego) é, para muitos adultos, um fardo. Tal como o é, para muitos alunos, voltar à escola. É um facto! Mas também é verdade que a forma como encaramos esse desafio, como ultrapassamos as dificuldades, como nos automotivamos é um exemplo singular que podemos dar aos nossos filhos. Não apenas pelo que dizemos, mas pela atitude que tomamos.
Neste regresso à escola, estou certa que já preparaste a mochila do teu filho. E tu? Como vais preparar a tua? Aqui seguem algumas dicas:
Estar onde estás – mantém a tua presença no que estás a fazer. Se estás no trabalho foca-te nas coisas de trabalho. Se saíste do trabalho, mantém o teu foco na família (e em ti). Desligar as notificações e e-mails ajuda muito!
Fazer uma coisa de cada vez – está provado que o multitasking não traz melhores resultados. Se nos focarmos verdadeiramente no que estamos a fazer e numa coisa de cada vez, tornamo-nos muito mais eficientes.
Parar – parar com alguma frequência durante o dia (1 a 3 min) para respirar com calma, ajuda-te a focar durante o tempo posterior.
Ser grato – mesmo que a tarefa seja cansativa ou que a chefia seja difícil, existem sempre aspetos do nosso trabalho que são positivos (uma colega, o salário, o ambiente, o sorriso que o cliente deu). No final do teu dia de trabalho, reflete naquilo em que és grato.
Aceitar – aceita aquilo que não podes mudar. Aceita a realidade tal qual é. Quando conseguimos fazê-lo, estamos mais aptos a mudar a situação ou a mudarmos nós o modo como a gerimos. Aceita-te como és – quanto melhor te conheceres, melhor te adaptas ao ambiente onde estás.
Encontrar a missão – encontra uma missão naquilo que fazes – pode ser o sorriso que despertas em alguém, pode ser o ajudares uma criança ou um idoso a ser mais feliz, pode ser o sentires-te melhor contigo mesma, pode ser o ganhares dinheiro para sustentar a tua família. Encontra um sentido para fazeres o que fazes.
Gerir conflitos – lembra-te que todas as pessoas têm o mesmo objetivo: serem felizes, sentirem-se bem. Quando conseguimos sentir a humanidade que nos une, conseguimos ver melhor o outro e gerir melhor os conflitos. Mas afasta-te de pessoas tóxicas. Une-te a quem te acrescenta, não a quem te faz sentir ainda pior.
Mudar – A decisão está nas tuas mãos. Pode ter consequências, podes ter medo, podes não querer, mas lembra-te que tu tens sempre a capacidade de decidir. E é importante aprendermos a gostar do que fazemos. Mas também existem oportunidades de fazermos aquilo que gostamos. Só precisamos de coragem para mudar.
O recomeço do trabalho é uma excelente oportunidade para canalizarmos a energia que ganhámos com as férias e refletir sobre as nossas intenções para esta nova etapa, como nos sentimos e como nos queremos sentir. E o que temos que fazer para lá chegar.
Habitualmente nesta época, a nossa parentalidade foca-se de modo mais consciente na escola dos nossos filhos, na sua adaptação, no que temos que preparar ou fazer para que tudo corra do melhor modo. Convém não esquecer que para que eu consiga ser um pai/mãe mais presente e consciente, primeiro que tudo tenho EU que estar bem. Se não me sentir bem durante o meu dia de trabalho, se levar as preocupações e frustrações comigo quando vou para casa, dificilmente conseguirei estar verdadeiramente presente para os meus filhos. Prontos para preparar as nossas “mochilas” para o trabalho?